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Suicídio

Precisamos falar sobre

Capítulo 1

A escalada do suicídio no Brasil e no mundo

Por que precisamos falar sobre?

Pouco se fala sobre o suicídio. Há tabus e mais tabus que impedem que ele seja abertamente discutido e, assim, melhor enfrentado tanto do ponto de vista social quanto individual. Um suicídio acontece no mundo a cada 40 segundos. São quase 800 mil vítimas por ano. Para cada caso, são pelo menos outras 20 tentativas. Ou seja, quase 20 milhões de pessoas podem não conseguir se matar, mas tentam. E, talvez, o número mais impactante: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados.

Dados como esses mostram como o suicídio é uma questão urgente em nossa sociedade. Só para se ter uma ideia da proporção do problema, essa é, segundo a OMS, a segunda maior causa de mortes evitáveis de jovens em todo o mundo, atrás apenas de acidentes de trânsito, e superando as vítimas de HIV ou da violência.

No Brasil, 32 pessoas tiram a própria vida por dia, ou uma a cada 45 minutos, o que faz de nós o oitavo país com mais suicídios do mundo. Em uma sala com 30 pessoas, é provável que cinco delas já tenham pensado nisso.

Especificamente no caso brasileiro, o panorama tem se tornado mais grave nos últimos anos. Isso porque, se em alguns dos países com maior incidência de suicídio do mundo a taxa está estável, por aqui ela tem crescido. De acordo com o Mapa da Violência, entre 2002 e 2012, o total de suicídios passou de 7.726 para 10.321, um aumento de 33,6%, o triplo da taxa de crescimento da população, que ficou em 11,1%. A taxa é de 5,3 casos para cada 100 mil habitantes. O índice também fica acima do aumento nas taxas das outras principais formas de mortes violentas no mesmo período, como homicídios (2,1%) e acidentes de trânsito (24,5%).

O Mapa da Violência é um levantamento das causas das mortes violentas em todo o Brasil, incluindo dados sobre homicídios, suicídios e acidentes de trânsito, utilizando dados dos registros das Declarações de Óbito, fornecidos pelo Ministério da Saúde.

Por acreditar que a única maneira de se alterar esse cenário é através do diálogo aberto, acabando com um tabu que evita que o assunto seja tratado da maneira como deveria, o Comunica que Muda foi a fundo no tema, buscando entender o que e como as pessoas falam sobre suicídio nas redes sociais.

Produzido nos meses de abril e maio de 2017, o monitoramento, realizado via plataforma Torabit, é um levantamento completo sobre como o assunto é abordado na internet, buscando entender como isso pode influenciar na questão do suicídio. Foram capturadas 1.230.197 menções nas redes.

Destaque principalmente para a discussão que se criou em torno das notícias sobre o crime virtual da Baleia Azul e a estreia da série 13 Reasons Why (Os 13 Porquês, em tradução livre) no Netflix, o que movimentou as redes e promoveu o debate sobre o tema. Outros assuntos alcançaram uma quantidade de menções bem menor, mostrando como esses dois temas monopolizaram o debate sobre suicídio no período.

No geral, o tema do suicídio na internet é mais periférico, restrito a poucos grupos de conexões, nos quais não se destacam nenhum grande influenciador, com o assunto sendo tratado principalmente de maneira mais genérica, sem grande conscientização. Entretanto, ao se analisar especificamente a repercussão de Os 13 Porquês e da Baleia Azul, percebe-se que existiram muito mais interconexões entre os usuários, com o surgimento de grandes influenciadores nos temas, mostrando como o debate foi amplificado no período do monitoramento.

"Foram capturadas 1.230.197 menções nas redes."

A maior parte dos comentários foi neutra, quando não há um posicionamento claro na postagem, com 52,8% do total. As menções positivas, quando a pessoa demonstrou uma conscientização sobre o tema, somaram 28,8%. Já as negativas, que são mensagens preconceituosas, que reforçam o tabu, incentivam o suicídio ou demonstram falta de conscientização, ficaram com 18,4% do total – ou seja, quase 20% das pessoas que tratam do assunto suicídio o reforçam de forma negativa. A maior parte de comentários neutros também ajuda a mostrar como a discussão sobre o tema continua muito superficial.

No mês de abril, enquanto o tema ainda estava mais “quente”, pela estreia da série e o início da viralização de notícias sobre a Baleia Azul, a maior parte dos comentários foi de citações e compartilhamentos (31,5%), seguidos por opiniões (28,3%). Por outro lado, em maio, com a diminuição da discussão, a maioria das menções foi de piadas, apesar da seriedade do tema, com 44,5%. Somando os dois períodos, as piadas ficaram na frente, com 34,2% do total, enquanto as opiniões cravaram 24,4% do total.

Também é interessante notar que os relatos pessoais, que mostram as pessoas que postaram algo que as relacionava diretamente com o suicídio, representaram apenas 6,3% de todas as menções. Ou seja, a maior parte do monitoramento foi de pessoas falando sobre o suicídio, mas de uma maneira impessoal.

Comunica que Muda

O Comunica Que Muda (CQM), uma iniciativa digital da agência nova/sb, tem o objetivo de mostrar o poder da comunicação de interesse público como agente transformador na sociedade.

Ao combinar uma estratégia de constante monitoramento dos assuntos mais debatidos nas redes, aliada à ágil criação de conteúdos específicos, o CQM busca, por meio da alta relevância e incessante interação com seu público, realizar um objetivo maior: promover e qualificar o debate sobre temas fundamentais, mas que ainda carecem de espaço na sociedade brasileira – como a questão do suicídio aqui analisada, da intolerância, objeto do nosso primeiro dossiê, da mobilidade, assunto do segundo estudo, e do lixo, tema do terceiro levantamento, além da discussão sobre a descriminalização da maconha (tema de debate entre especialistas).