Não seja um porquê (Os 13 Porquês)
Suicídio, bullying e intolerância em pauta
Outro grande destaque do monitoramento, principalmente no mês de abril, foi a série Os 13 Porquês, que estreou exatamente no primeiro dia do mês. A produção foi responsável por 26,1% de todas as menções do monitoramento, representando, sozinha, mais de um quarto de tudo o que foi falado sobre suicídio no período.
A produção da Netflix conta a história de Hannah Baker, uma adolescente que se suicida, e deixa 13 fitas gravadas, destinadas à 13 pessoas que seriam as responsáveis por sua escolha de se suicidar. Sucesso absoluto de audiência, a série levanta diversas questões relacionadas à depressão, bullying, intolerância, machismo e até mesmo à cultura do estupro, o que gerou muita discussão e debate sobre esses temas.
Um ponto importante foi a diferença entre os dois meses monitorados quando o tema é Os 13 Porquês. Abril, mês de estreia da série, concentrou a maioria absoluta das menções captadas, com mais de 87% do total.
Tipos das menções
ABRIL
Além de concentrar a maioria absoluta de menções sobre Os 13 Porquês, o mês de abril teve como destaque a enorme quantidade de citações, com trechos e falas dos personagens, com 60,5% do total. Opiniões sobre a série também tiveram algum destaque, com 27,4%.
MAIO
Já em maio, quando o debate sobre a série reduziu consideravelmente, as citações mantiveram a liderança, mas por uma margem menor. Foram 36,5% do total, com as opiniões sobre o conteúdo da produção chegando a 29,7%. As notícias sobre a série também aumentaram sua fatia, com 14,9%.
GERAL
Na soma dos dois meses, as citações ficaram com 57,5% do total de menções, enquanto que as opiniões tiveram 27,7%. Notícias (5,8%), piadas (4%) e depoimentos (2,5%) foram os outros tipos mais presentes.
ABRIL
Em abril, mês em que a discussão sobre a série foi maior, essa tendência de avaliação positiva se confirmou, com 67,8% do total. As neutras somaram 18,8% e as negativas 13,4%.
MAIO
Já em maio, com a discussão mais fria, a maior parte dos comentários foi neutra, com 78,7%. As menções positivas tiveram 12% e as negativas 9,3%.
Sentimentação
GERAL
No geral, Os 13 Porquês foi bem avaliada pela maioria das pessoas que se manifestou sobre ela nas redes. Foram 60,9% de comentários positivos, com pessoas defendendo a produção, ou mesmo buscando uma conscientização sobre os temas levantados na série. As menções neutras somaram 26,2% do total, enquanto 12,9% foram comentários negativos.
DIA VS BUZZ
Como a estreia da série ocorreu no dia 1 de abril, o pico de menções foi logo no começo do mês, principalmente nos dias 2 e 3. Já em maio, a quantidade de comentários caiu consideravelmente, com os dois momentos de maior repercussão ocorrendo no dia 7, quando foi anunciada a segunda temporada, e no dia 21.
Já pela média por dia da semana, pode-se perceber como a série foi mais comentada principalmente aos domingos e segunda-feiras, talvez por esses serem os dias de maior audiência no serviço de streaming da Netflix.
Na média por horas, os picos foram às 21h, com uma maior parte de menções concentradas entre às 13h e às 0h.
Locais
A história de Hannah Baker foi mais comentada no Rio de Janeiro, com 22,6% do total de menções, e em São Paulo, com 21,4%. Vale destacar que, no caso da série, a margem de liderança dos cariocas sobre os paulistas foi consideravelmente menor do que geral do monitoramento, ou mesmo quando o assunto era a Baleia Azul. Na sequência, aparecem Minas Gerais (13,2%), Pará e Rio Grande do Sul (5,6%), Pernambuco e Ceará (4,7%).
Nuvem de termos
Grafo de conexões
O grafo de conexões dos usuários que discutiram nas redes Twitter e Instagram a série Os 13 Porquês, demonstra, também ao contrário do grafo geral e do grafo sobre a Baleia Azul, que existem muitíssimo mais interconexões entre os diferentes clusters (agrupamentos de discussões). São diversos os influenciadores que fazem deslocar o assunto de um agrupamento para outro e a esfera de conexões está praticamente lotada. Para ver cada um deste influenciadores, que estão no centro de cada grupo, de onde saem ou chegam as conexões, clique aqui, amplie a página e coloque o cursor exatamente no centro de cada agrupamento. Cada ponto é uma pessoa em uma determinada rede. As cores apenas indicam o cluster.
Falar sobre o suicídio, mas de qualquer forma?
Uma discussão muito importante levantada acerca da série foi a forma como o suicídio foi abordado pela produção. Apesar de considerar importante colocar o assunto em pauta, para conscientizar as pessoas e acabar com esse tabu, Os 13 Porquês recebeu críticas, inclusive de especialistas, pela maneira como o tema foi tratado.
O principal foco de crítica foi a cena que mostra explicitamente o suicídio de Hannah. Isso vai contra todas as recomendações da OMS e de especialistas no tema, que sugerem que não sejam informados detalhes específicos do método utilizado, nem sejam divulgados fotos ou vídeos.
Além disso, há a alegação de que a série glamoriza o ato, não deixa saídas possíveis para a personagem principal, e apresenta pessoas como culpadas pelo suicídio, o que, dependendo do caso, e de quem está assistindo, pode acionar alguns gatilhos perigosos, incentivando a prática.
"A série trouxe esse mote muito importante de falar sobre o assunto, mas de um jeito meio torto em alguns momentos, por trazer culpabilização, por simplificar o ato, por não dar outras saídas. A única saída que ela encontra é o suicídio, então quando você pega uma adolescente que se identifique muito com a personagem, ela já sabe o que vai fazer".
Karen Scavacini, psicóloga e coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.
Assim, pode-se concluir que a série teve um impacto positivo ao colocar o assunto na pauta da sociedade, gerando conscientização e mostrando as consequências que o bullying e a intolerância podem gerar na vida das pessoas, especialmente jovens e adolescentes. Um bom exemplo é o aumento na procura por ajuda ao CVV, que teve um crescimento de 445% no número de ligações até 10 dias após a estreia da série. Ou seja, mais pessoas com pensamentos suicidas procurando ajuda.
Por outro lado, ao não seguir recomendações da OMS e de especialistas sobre como tratar o tema, a produção pode se tornar prejudicial para algumas pessoas, podendo sim incentivar ao suicídio em alguns casos.